Imigração: Idade não é fronteira

A nossa convidada deixou uma vida confortável em São Paulo e junto com o marido e quatro filhos adolescentes incluindo trigêmeos, foi recomeçar a vida na Suécia.
Uma curiosidade, a Áurea tinha quase 50 anos quando topou embarcar nessa aventura. Apesar das dificuldades com o idioma, a escuridão do inverno sueco e a longa distância do Brasil, essa nova fase tem sido um sucesso para toda a família.

Conheça nossa convidada:

Aurea Cardoso
País de residência: Suécia
Empresária e sócia da Brazil & Co Multistore www.brazilandco.se

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Leia a entrevista (editada para concisão)

Pular para: Qual a motivação para deixar o Brasil com quase 50 anos
Brasileiros são um talento de valor no exterior
Viver num país com fortes princípios de igualdade
Imigrando com uma família grande
Aprendendo a língua (sueco)
Um dos países mais felizes do mundo
Montar um negócio na Suécia: Brazil & Co

Rosana: Áurea, bem-vinda ao nosso show.

Áurea: Muito obrigada Rosana, muito obrigada Polyana pelo convite. E sempre muito bom trocar experiências. Espero que esse nosso bate-papo sirva de inspiração para outras pessoas que estão pensando numa experiência internacional. E por que não fazer isso depois dos 40, quase 50?

Polyana: Pois é Áurea, tem tantas coisas da sua história que é interessante, ser mãe de trigêmeos mais um, professora universitária no Brasil e empreendedora na Suécia. Bem-vinda para contar sua história no nosso podcast.

Áurea: Muito obrigada, é isso mesmo, a gente tem que se inspirar e se conectar.

Qual a motivação para deixar o Brasil com quase 50 anos

Rosana: Áurea, então vamos começar pelo motivo que levou você a deixar o Brasil com quatro crianças e já perto dos 50 anos. Nas entrevistas que já fizemos no nosso podcast os nossos convidados migraram muito mais cedo – inclusive foi o meu caso, na faixa dos 20 anos.  A maioria das pessoas com quem nós temos conversado saiu do Brasil na faixa dos 30. Eu conheço uma outra pessoa que emigrou já com 60 anos mas isso é raro. Sua história é bastante única e nós estamos bastante curiosas em saber o que motivou você a deixar o Brasil.

Áurea: Sim, pois é, contando um pouquinho da minha experiência, eu sou casada com José, há 21 anos. Nós temos trigêmeos de 19 anos e um caçula de 17 anos. Nós somos paulistas, morávamos em São Paulo, capital, e tínhamos uma vida estabelecida. Já tínhamos feito no Brasil a jornada que muita gente começa no exterior. Nós construímos nossa carreira no Brasil, meu marido trabalhava numa empresa de cosméticos e em 2017 ele foi mandado embora depois de quase 20 anos de serviço.

Então ele se deparou com o desemprego, que é um desafio grande dentro de qualquer família. Ele ficou dois anos e meio desempregado, aplicando para várias vagas, tentando voltar para algumas empresas do setor de cosméticos que era a área de experiência dele. E quando completou dois anos de desemprego, você imagina com quatro filhos e uma série de responsabilidades, ele começou a aplicar para fora do Brasil.

A gente nunca tinha tido planos de ter uma experiência internacional, de morar fora, nunca tínhamos pensado nisso. A vida em São Paulo, apesar da correria e de todos os desafios de morar numa grande capital, a vida era muito boa e bem tranquila.

Mas após de dois anos de desemprego, em 2019, ele começou a aplicar para fora do Brasil e chegamos na Suécia. Ele trabalha hoje em uma empresa de cosméticos, Sueca, é uma empresa familiar, uma empresa que atende principalmente aqui ao norte da Europa.

Essa foi a única alternativa de emprego dele, ele queria muito voltar para o mercado de trabalho. Meu marido tinha quase 50 anos na época, e você sabe que no Brasil, e eu acho que isso também se configura em muitos outros países, quanto mais velho, mais difícil para você voltar ao mercado de trabalho. Então quando essa oportunidade na Suécia apareceu, eu falei, meu Deus do céu, José, a Suécia, tão longe, no norte da Europa.

A Suécia tem uma série de desafios para quem vem do Brasil, a questão do clima, do idioma, a distância. É como a Austrália, não tem voo direto. Quem está em Portugal, ou França, ou Itália, mais para o sul da Europa, fica muito mais fácil para se deslocar para o Brasil.

Então a princípio ele iria sozinho, porque a gente achou que essa seria uma mudança muito brusca, para mim que trabalhava, dava aula, tinha toda uma estrutura em São Paulo, e os filhos estavam na escola com as suas rotinas. Mas nós somos muito unidos,  aí a gente achou que esse processo tinha que acontecer em família. Então avisamos a todo mundo, no trabalho, na universidade que eu dava aula, na escola. E viemos desafiadoramente no início da pandemia. Meu marido veio um pouquinho antes da pandemia, e eu vim em junho de 2020 com as crianças e agora estamos muito bem adaptados, estamos muito felizes. Então foi isso, a gente veio porque ele veio trabalhar em uma empresa sueca.

Rosana: Foi uma porta que se abriu mas na verdade vocês saíram do Brasil por uma questão de necessidade. Se o seu marido tivesse com seguido o emprego no Brasil talvez essa oportunidade não tivesse surgido ou vocês não teriam ido atras dela.

Áurea: Exatamente.

Brasileiros são um talento de valor no exterior

Polyana: É interessante também lembrar que o negócio de cosméticos no Brasil também é muito forte, o povo Brasileiro é vaidoso. O Brasil parece que tem profissionais no mesmo patamar dos estrangeiros, porque o curriculum do seu marido conseguiu atrair a atenção de uma marca estrangeira, uma coisa que eu achei interessante.

Áurea: Exatamente, porque o mercado de cosméticos, como você disse, lá no Brasil, é um mercado que movimenta muito dinheiro. Quando ele veio com essa expertise, a empresa se interessou bastante nisso, justamente por todo esse know-how que ele tinha do mercado Brasileiro, o mercado latino americano. Ele já tinha uma experiência internacional, já tinha tido algumas experiências dentro da empresa, mas nós nunca tínhamos morado fora.

Polyana: Nos entrevistamos a Mariana Lima do Moda na Mochila, ela falou isso, que às vezes a gente vai para um outro país com essa síndrome de patinho feio, e a gente acaba subestimando a nossa experiência, o nosso potencial criativo. E às vezes é isso o que muitos lugares do mundo desenvolvidos querem; pessoas com criatividade brasileira.

Áurea: A minha experiência aqui conversando com outras Brasileiras, outros Brasileiros, eu penso que a gente é um tipo de mão de obra muito especial, porque nós somos muito criativos, a gente está disposto a sair das rotinas, pensar em soluções rápidas, porque eu costumo dizer que o brasileiro nasceu na crise e vai morrer na crise. Assim, você vende almoço para pagar janta, é um mercado muito dinâmico, com muita concorrência, um mercado com muitas empresas querendo o mesmo consumidor. Então a gente ganha muito em termos de know-how criativo.

Polyana: E você falou também, Áurea, que você foi durante a pandemia, um momento tão, abrupto e inesperado, como foi isso?

Áurea: Sim e a Suécia teve uma estratégia de pandemia muito única. A Suécia talvez tenha sido o único país do mundo que tenha fechado as suas fronteiras e manteve toda a rotina dentro do país. As escolas estavam abertas, os trabalhos estavam abertos, comércio, tudo normalizado. Até porque a Suécia é um país pequeno, um país muito organizado, tem o maior número de leitos da Europa, então tinha uma estrutura longe de colapsar o sistema de saúde. Eles inclusive trouxeram durante a pandemia pessoas doentes da Alemanha, da Polônia, da Hungria, conseguiram inclusive ajudar outros países mais próximos.

Então quando eu cheguei, e vocês sabem que o Brasil teve uma manifestação muito grande sobre a pandemia, as pessoas ficaram muito preocupadas, lockdown, muitos mortos, enfim, muitas pessoas doentes. Eu saí no início da pandemia, com todo aquele alvoroço do país, e cheguei aqui num país que não tinha nada. Eu olhava na rua e falava, mas será que o Suéco sabe que está acontecendo do outro lado do mundo? O uso de máscaras não foi obrigatório, o transporte público funcionou perfeitamente.

Então foi muito interesse a gente também acompanhar e ver, como Brasileira, que um país organizado consegue passar por uma situação super crítica, e faz a diferença no resultado final.

Rosana: É um contraste grande.

Áurea: Sim, um contraste enorme.

Viver num país com fortes princípios de igualdade

Polyana: E você tinha me falado também, Áurea, da questão da igualdade. A equidade na Suécia, algo que te chamou a atenção.

Áurea: Sim, muito.

Rosana: Na questão da igualdade, o que eu achei super interessante na sua história é que o seu marido não conseguiu se recolocar no Brasil e a idade certamente foi um fator que fechou muitas portas para ele. Mas a idade não foi uma questão usada para excluí-lo das oportunidades na Suécia.

Áurea: Não, pelo contrário.

Rosana: Na minha família, meu pai passou por isso quando ele perdeu o emprego em uma multinacional no Brasil, nessa faixa etária também. Ele nunca mais conseguiu se recolocar, e terminou caindo em depressão. Uma pessoa numa idade super produtiva ainda, ver as portas fechadas por conta de discriminação de idade. Mas na Suécia a idade é vista de uma forma bem diferente. Você pode falar um pouco sobre isso?

Áurea: Claro. E é isso mesmo que me chamou a atenção. E esse comentário que você fez sobre idade era uma questão que preocupava muito o meu marido. Quando o meu marido veio para cá, ele falou, nossa, a empresa está me dando uma oportunidade que eu não teria no Brasil. Eu ainda tenho muito para contribuir, eu ainda tenho muito para me desenvolver profissionalmente. Então, ele veio também com o sentimento de gratidão sobre a oportunidade da empresa.

Mas também essa questão da igualdade é um reflexo que a gente viu dentro da sociedade sueca. Então, eu acho que é uma lição, inclusive, para os meus filhos, que estão se desenvolvendo ainda, como pré-adultos, vão fazer 20 anos em breve. É muito interessante saber que eles vão viver nessa sociedade de igualdade. Por exemplo, uma coisa muito simples aqui é que não existe o termo licença maternidade, é licença parental, ou seja, a licença dos pais.

Então, o pai tira licença e a mãe também tira licença. Ou os guardiões legais, porque se você tiver um filho adotivo, a licença é igualzinha a de um filho gerado. Então, você vai ter a mesma condição. Se for um casal de homens, é a mesma licença. Um rapaz vai tirar uma licença, o outro rapaz vai tirar outra licença. Um pai e outro pai. São duas mães? Funciona da mesma forma. Não existe o termo licença maternidade, porque a licença é do parental, de quem é responsável por aquele bebê ou é responsável por aquela criança.

Outra coisa que me chamou muita atenção, é a questão da fila preferencial. Não existe fila preferencial aqui. Os idosos, a gestante não têm fila preferencial. O que acontece aqui na Suécia é que se você vê um idoso e você vê uma gravida, ou uma pessoa que tem dificuldade de mobilidade, o próprio sueco já dá vez. Não precisa da fila preferencial. Você dá preferência para a pessoa, porque você acha que ela pode passar na sua frente.

Essas questões são muito interessantes para mim. Principalmente nos, mulheres, que tivemos que lutar tanto por igualdade, você vem para uma sociedade que caminha com isso há muitos anos, foi uma surpresa.

Outro exemplo clássico, parece uma coisa super simples, mas é muito relevante. A gente foi matricular os filhos na escola e eles nunca perguntaram se nós éramos casados, porque não importa, de fato, se nós somos casados. Eu sou a mãe e ele é o pai. Não tem essa questão do matrimônio. Eles estão interessados em saber quem são os responsáveis pelas crianças. O tipo de relacionamento dos responsáveis não e relevante.

Polyana: Que legal!

Áurea: E fora outros pequenos detalhes, por exemplo, as mulheres aqui estão em cargos de destaque, a primeira-ministra é mulher, a futura rainha é uma mulher que mudou toda a legislação da Suécia para casar com um plebeu. A rainha Silvia é filha de Brasileiros, então ela fala português fluentemente.

E claro que se o rei está passando ali do outro lado da rua, tem todo um aparato policial, porque a gente na Europa hoje vive numa iminência de ataque terrorista, com duas guerras próximas daqui. O alerta subiu muito sobre atentado terrorista na Europa, principalmente em Estocolmo, porque Estocolmo é uma cidade super internacional, com muitos refugiados e tem um programa de refugiados imenso.

Imigrando com uma família grande

Rosana: Áurea, vocês foram para a Suécia, foi uma questão de necessidade e também uma oportunidade, mas foi difícil tomar essa decisão? Porque você tinha sua carreira, as crianças estavam já grandes. As crianças celebraram também ou foi motivo de conflito para a família? Como foi essa questão da tomada da decisão e a mudança para a Suécia?

Áurea: Olha, quando a gente tem uma família grande, não dá para dialogar muito com tanta gente, sabe? Quando você tem quatro filhos e você tem uma situação de desemprego… nós simplesmente tomamos a decisão. Eu me lembro que meu marido veio fazer as entrevistas finais, recebeu a proposta, veio para o Brasil de volta, e falou, olha, eu vou trabalhar na Suécia, como é que a gente vai fazer? Você vai com as crianças? Eu falei, vamos todos. E nós apena comunicamos as crianças. Eu não perguntei para os meus filhos se eles queriam ir ou não. Eu falei para eles, eu e seu pai já decidimos, o seu pai está sem emprego, ele quer voltar para o mercado de trabalho e nós vamos apoiá-lo. Vamos todos para a Suécia, não tem jeito. Eu não perguntei e eu sinceramente, não cogitei que fosse dar errado. Vai dar certo, tem que dar certo, nós não temos um outro plano. Plano A é a Suécia, plano B é a Suécia, plano C é a Suécia, plano D é a Suécia.  Vai dar certo, porque eu aprendi na experiência profissional, na experiência pessoal, que você tem que colocar as suas energias onde você acredita que vai dar certo. Não adianta ser pessimista. Eu tive trigêmeos que é uma coisa extraordinária, você aprende a acreditar piamente em Deus. E uma gravidez de risco, uma gravidez completamente assistida, você tem medo de perder, medo de morrer, você pensa em mil coisas durante aquela gestação, mas eu sempre acreditei em Deus, na fé, nos médicos, em mim, e que tudo ia dar certo, e eu tive as crianças, me recuperei super bem.

Então eu sempre fui muito positiva e eu acho que você também passa confiança para as outras pessoas.  Então, os filhos também acreditaram que era a melhor decisão, afinal de contas, o pai e a mãe estavam decidindo.

Agora, são quatro filhos, quatro personalidades, quatro pessoas completamente diferentes com expectativas diferentes. Dos meus trigêmeos, eu tenho dois meninos e uma menina. Um dos meus trigêmeos, sempre quis morar fora, inclusive, durante o desemprego do marido, quis fazer intercâmbio. Eu disse para ele que não dava, porque o pai estava desempregado, então a gente não poderia ter essa despesa extra. Eu falei, mais para frente, quem sabe. Então, ele foi o primeiro a pegar malinha, ele falou, nossa, consegui meu intercâmbio!

A menina que eu falo que é do meio dos trigêmeos, sofreu bastante, porque como toda menina, já tinha os seus vínculos pessoais, as meninas são mais sensíveis, como eu também, sofreu bastante. Chorou, descabelou, disse que ia morar com a avó… hoje é a mais adaptada, depois de quatro anos, se arrepende imensamente de ter falado tudo aquilo.

O outro dos trigêmeos, sempre foi muito neutro, então, ele iria para a Suécia, assim como também para Cubatão, ou Austrália, ele é super flexível.

E o mais novo, que tinha de 13 para 14 anos, e ainda estava meio criança, ficou meio neutro.

Então, viemos. Arrumamos a mala, eu coloquei os quatro no avião, fechamos todo o apartamento em São Paulo, colocamos toda a mudança no container, trouxemos tudo para cá.

Quando chegamos eu resolvi coloca-los no colégio sueco, porque eu sabia que quanto mais rápido eles se integrassem à língua e à cultura, mais rápido eles se desenvolveriam. E eu estava absolutamente certa. Quem está escutando esse podcast, eu aconselho se você vai para China, coloca seu filho no colégio chinês, se você vai para Noruega, coloca seu filho no colégio norueguês.

Se você tem planos a médio e longo prazo, porque tem gente que às vezes tem um contrato de trabalho de um ano, de dois anos, aí tudo bem, talvez valha a pena colocar no colégio internacional, porque a pessoa vai ficar mudando de tempos em tempos. Mas, na minha opinião, se você quer fincar raízes, e se você quer se desenvolver a médio e longo prazo no país que você escolheu morar, coloca o seu filho numa escola local.

Aprendendo a língua (sueco)

Polyana: E é difícil falar sueco?

Áurea:  Eu não falo sueco fluentemente, mas já não morro de fome, já consigo perguntar, já consigo responder, já consigo participar de uma pequena reunião, nada muito complexo. Todo mundo sabe que eu sou brasileira. Eu sempre peço para repetir, falar um pouco mais devagar. E com um pouco de bom humor e educação abrem várias portas. Eu sou muito calma, muito tranquila, e no final das contas eu falo que eu sou muito feliz com os meus pequenos resultados em sueco.

Eu fui para a aula de sueco por um mês, aqui o governo oferece o curso de sueco gratuito para qualquer estrangeiro que esteja regularmente na Suécia. Aqui é um país complicado para você ficar ilegal, você não consegue fazer absolutamente nada se você estiver ilegal.  

Eu fui fazer o curso de sueco e no primeiro mês e não entendi absolutamente nada. Eu não sabia onde estava o “eu” na frase. Por exemplo, João, pegou uma bola. Meu Deus, eu não sabia quem era o Joao, ou a bola. Eu não conseguia identificar o verbo, substantivo, adjetivo, nada, absolutamente nada. E eu saía da escola e chorava, me lamentava, achava que não ia dar certo.

Mas aí, fui fazer Duolinguo, fui fazer os aplicativos, fui assistir aula no YouTube, fui fazer café – eles chamam aqui de Sproke Café. Você vai lá tomar um café com uma pessoa e conversa com ela. Eu peguei uma senhora sueca de quase 70 anos, que morou na Argentina, o marido trabalhou no Brasil muitos anos, e ela me foi uma pequena mentora por um ano. Com muita paciência, com muitos cafés, minha língua foi destravando. Mas eu acho que cada um é um de um jeito, tem gente que aprende muito mais rápido, tem gente que aprende devagar, tem gente que nunca vai aprender, e tudo bem. O negócio é você saber como vai lidar com isso.

Polyana: Nossas limitações são individuais. Agora, eu fiquei curiosa com essa idéia do café, é um aplicativo? Achei uma idéia maravilhosa.

Áurea: É, você se inscreve em um aplicativo, chama Meet Live, e você encontra outras pessoas dentro do seu bairro, dentro da sua localidade. É isso, você vai fazendo uns pequenos filtros, vai dizendo se você quer conversar só com o sueco, se você quer conversar com o sueco para ele aprender português, tem alguns suécos que querem aprender português.

E é muito legal. Vivemos num mundo no qual as pessoas se queixam da solidão, da dificuldade de conexão, embora a gente esteja hiper conectado mas na verdade estamos muito sós. Então além de aprender o idioma, acho que isso também é uma forma de fazer novos amizades. E conhecer novas afinidades, porque um novo idioma também abre a mente para várias coisas novas. E trocar experiências culturais, porque tem coisas que só o sueco sabe ou só o Brasileiro sabe.

Polyana: Exatamente. Eu adorei essa ideia.

Rosana: Áurea, apesar de você não ser fluente no sueco, você não tem problema de comunicação porque o inglês deve ser uma língua universal na Suécia, correto?

Áurea: Então, a língua oficial aqui é o sueco, mas todo mundo, absolutamente todo mundo fala inglês. Então, as crianças são alfabetizadas aqui, em inglês e em sueco.

A Suécia tem um sistema educacional muito interessante. Aqui não se paga, não existe escola privada na Suécia, a escola é totalmente pública. Mesmo as escolas internacionais, mesmo que seu filho vá estudar no colégio internacional, o colégio não é pago, não tem taxa. Aqui toda a grade educacional é gratuita. Desde a pre-escola, até o doutorado.

Rosana: Interessante, isso forma a base da igualdade também, né? A questão de você não ter que pagar pela escola, isso já é um indicativo, de que você mora num país muito mais igualitário.

Auria: Sim, aqui é totalmente meritocracia. Você vai estudar aonde você merece estudar pelo seu mérito, pelas suas notas, pelos seus resultados, pelo seu empenho. Isso também é muito interessante. Então, você pega o Karolinska Institute que é a maior Universidade de Medicina, no Norte aqui da Europa, qualquer um pode entrar, desde que você tenha as notas, desde que você tenha conhecimento suficiente para entrar.

Um dos países mais felizes do mundo

Rosana: Eu vi um índice que existe sobre os países mais felizes do mundo. A Finlândia é o número 1. Mas se eu não me engano, todos os países nórdicos estão nessa lista dos países mais felizes, entre os dez mais felizes. Você tem essa percepção também, que é mais fácil ser feliz num país como a Suécia do que num país como o Brasil? A gente tem essa noção, que o brasileiro é um povo feliz, mas quando você olha para esse índice, você vê que a felicidade é vista de outra forma?

Áurea: Sim. Eu conheço essa pesquisa. Ela fala um pouco sobre a estabilidade emocional, que está relacionada a uma vida tranquila, saudável, estabilizada. Eu acho que a gente é bem feliz como brasileiro. Mas também acho que a Suécia é bem feliz com relação a esse equilíbrio emocional. É muito curioso que a Suécia, o sueco, ele não se abala por nada, nem pela pandemia. Gente, as pessoas estão morrendo, da vontade de sacudir o sueco. Ele é muito calmo, nada tira ele do sério. Aí também tem os outros desafios, porque o Sueco não entra em conflito, então ele guarda pra ele, ele não estoura, ele não briga.

Eles tinham que ser um pouco mais agitados. Eu que vim de uma cidade super agitada como São Paulo, estou agora super calma, depois de quatro anos aqui, eu fiquei também mais tranquila, mais relaxada. Então eu acho que essa felicidade, Rosana, respondendo a sua pergunta, tem a ver com isso, com essa estabilidade.

Mas de um ano e meio pra cá, desde a guerra da Ucrânia, as coisas ficaram mais agitadas aqui, porque a gente tá bem na divisa com a Rússia, as pessoas estão muito preocupadas. Agora a guerra da Faixa de Gaza… Como eu falei, esses alertas de atentado terroristas começaram a ficar mais frequentes aqui. Mas fora isso, o país é muito tranquilo e eu acho que isso tem a ver essa questão da felicidade.

Polyana: Eu queria falar um adendo do psicólogo e autor Martin Seligman, porque ele disse que a felicidade, nas pesquisas que ele faz da psicologia positiva, tá muito relacionada aos nossos relacionamentos. As pessoas felizes, elas têm bons relacionamentos, tanto é que da psicologia hoje, umas das as primeiras perguntas aos pacientes é: como estão seus relacionamentos? Num país em que a igualdade é um pilar da sociedade, onde você não vai estar entrando em conflito com tudo, eu acho que isso faz uma diferença na questão de tolerância e respeito. Então, se você tem tolerância e respeito, você tem bons relacionamentos, isso favorece a esse equilíbrio emocional.

Tem outra coisa que eu achei interessante, o Jordan Peterson que estuda muito a Suécia e a igualdade de gênero, ele faz uma crítica, ou uma afronta, ele diz que quando uma mulher nessa sociedade de igualdade está diante dessa igualdade de posições ela prefere a maternidade. Você percebeu isso?

Áurea: Sem dúvida, eu vejo bastante aqui, mas também vejo o outro lado, os rapazes assumirem a paternidade. Eu estava conversando com um colega do meu marido, que ele diz que os momentos mais felizes da vida dele foram durante as licenças paternidade. É muito raro você escutar isso de um brasileiro. Normalmente você fala, nossa, fiquei com meu filho, foi um inferno, não deu certo. O cara começa a reclamar muito, porque eles não estão acostumados com isso. Aqui é muito comum, porque aqui com uma licença paternidade, como eu disse no início, é dividida seis meses para mulher, seis meses para o homem.

E é muito comum você vê vários rapazes andando de carrinho e levando os filhos para passear no parque. O que para eles é absolutamente normal, eu tenho vontade de fotografar, filmar, entrevistar pessoas, porque isso para a gente é muito diferente.

Rosana: É a diferença cultural.

Áurea: A diferença cultural. Sim. E que vai demorar anos e anos para mudar.

Rosana: Como você falou, Aurea, talvez leve muito tempo para o Brasil mudar, várias gerações para o Brasil chegar nesse estágio. Mas a questão da igualdade social também é resultado da pressão econômica. Porque a pressão para você manter o emprego, para ter uma carreira de sucesso, eu acho que no Brasil e na maioria dos países ocidentais, acho que a pressão é muito grande. Você tem medo até de tirar essa licença mesmo que a licença esteja disponível pra você.  A gente tem medo de ficar fora do mercado de trabalho.

Áurea:  Sim, sem dúvida. É um dos desafios do Brasil. Porque muita gente tem medo de não voltar ao emprego original. Mas aqui na Suécia eles preservam demais essa volta. E aqui eu vejo como eles valorizam essa volta do trabalho. Não existe esse negócio de uma pessoa que teve um neném ser mandado embora. O país tem regime socialista, então aqui é tudo pra todo mundo.

Rosana, você falou que a Suécia é um dos primeiros países na felicidade. A Suécia é também o primeiro país pra se criar filhos. Tem uma série de questões positivas pra você ter filho na Suécia. Além dessa questão da igualdade social.

Polyana: Áurea, qual são os outros pontos que você achou que existia essa diferença entre o Brasil e a Suécia?

Áurea: Olha, eu acho que culturalmente é isso. A questão de homens e mulheres, dessa igualdade, a questão da entrada do mercado de trabalho após certa idade. Eu vejo pessoas muito mais velhas do que eu, 60, 70 anos ainda no mercado de trabalho, trabalhando ativamente.

Eu acho também que existe a cultura de fazer as coisas independente do clima. O sueco sai na neve, no frio, na chuva. A gente vive seis meses do ano com baixas temperaturas. Então temos que fazer as coisas funcionarem. O país é muito organizado. Acho que culturalmente também. Você vai num órgão do governo e o rapaz fala, isso aqui vai demorar de 4 a 7 dias. É de 4 a 7 dias. Não é 3, não é 8. É de 4 a 7 sim.

É muito engraçado aqui existe muita carta. Um país tão tecnológico ainda manda carta. Porque a gente quase não recebe carta no Brasil. Mas aqui eles mandam carta.

Outra coisa, o país é muito pequeno. Estrutura é muito pequena. Então no primeiro ano que a gente estava fazendo imposto de renda aqui, claro, a gente tinha uma série de dúvidas e eu e o meu marido estávamos fazendo a Declaração de Imposto de Renda. Aí eu falei, vamos tentar marcar um horário, conversar com alguém. Eu liguei e o rapaz  falou, pois não, pode vir aqui amanhã às 9 da manhã. O agente fiscal, ele tem, digamos, 15, 20 casos que ele está cuidando. Chegamos lá e ele sentou, ele conversou, ele explicou, ele mostrou exemplo. Imagina no Brasil quantos contribuintes existem, metade da população deve declarar imposto de renda. Imagina se um agente fiscal vai ter tempo para atender todas as declarações que passam pelo sistema dele. Então, com uma mão de obra menor, e o volume de trabalho é muito maior, não dá tempo mesmo de atender o cliente.

Aqui você pode ir no governo conversar. Eu fui assistir uma reunião do Conselho da prefeitura local aqui, porque aqui você tem a cidade, mas você tem os bairros que eles chamam de comunas, como se fosse uma pequena região. Aí eu fui lá, pelo menos treinava um pouco o meu sueco, começo a entender um pouco de lei. Mas aí fiquei lá assentada, quieta. Daqui a pouco veio o vereador, “bom dia.” Eu contei, ah, eu sou brasileira e ele se apresentou, me mostrou o seu plano, Eu falei, moço pelo amor de Deus, não tô entendendo nada o que você tá falando. Mas ele foi bem paciente.

Gente, eu acho que se eu for na Câmara dos Vereadores em São Paulo, eu nem entro na Câmara, tem muita gente pra procurar um vereador em São Paulo, imagina, uma cidade de 11 milhões de habitantes fica bem mais difícil.

Polyana: E sobre o clima, Áurea, como é esse clima?

Áurea: Sim, até agora a gente tá falando das coisas boas, né?  Eu acho que o clima é um desafio, principalmente agora em novembro. Novembro é o pior mês do ano aqui na Suécia, os dias são muito curtos, começa a clarear as 10 da manhã, e vai escurecer as 3 da tarde, então a gente tem 5, 6 horas de nublado. Não é nenhum sol, porque a transição entre o outono e o inverno. é muito desafiador.

Pra mim pessoalmente, o que pega pra mim não é a neve, não é a baixa temperatura, mas sim a escuridão, a falta da luz me incomoda demais. E incomoda o sueco também, porque eu achei que era só a gente de fora. Mas o próprio sueco odeia novembro, tanto é que muita gente guarda as férias pra sair nessa época do ano da cidade ou do país. Eles vão pra Espanha, Itália, Grécia, Ásia.

Se tiver oportunidade, eles saem correndo daqui em novembro, então fiquei mais tranquila, fiquei menos chateada, porque eu falei que era só eu, mas como é o sueco também, beleza, não é um incomodo só nosso, é um incomodo geral.

Polyana: E também tem um impacto na saúde mental, né? Porque pouco sol, o índice da depressão é alta, né? Porque pessoas que levam pouco sol podem desenvolver uma depressão, porque a gente precisa da vitamina D.

Aurea: Sim, você tem toda a razão, ao mesmo tempo que a Suécia tem índices muito positivos, a Suécia tem grandes desafios nessa área. A Suécia é um dos países que já teve alta taxa de suicídio. Agora não, porque foram feitas algumas ações nos últimos anos, nas últimas décadas, pra diminuir isso. A questão do suicídio, a questão da depressão, e a questão do alcoolismo. O alcoolismo aqui era um dos maiores índices de problema. Eles fizeram alguns movimentos nas últimas décadas pra diminuir isso, mas as pessoas são muito solitárias, são muito sozinhas.

A questão aqui tem vitamina D, a vitamina D está em tudo, na manteiga, no iogurte, no suco, pra fazer essa suplementação a vitamina D.  Existe uma campanha, como existe a campanha no Brasil, da gripe, da dengue.

Já a saúde mental o governo vem em cima, principalmente nessa época do ano tem muita coisa acontecendo na cidade agora em Estocolmo, nesse mês de novembro dezembro, pra as pessoas irem pra rua, se socializarem é muito importante. O governo e as próprias pessoas se movimentam e ficam de olho nos amigos que estão mais tristes, mais deprimidos. Nos também dentro da comunidade Brasileira, as pessoas que estão chegando agora, a gente sempre dá esse conselho, cuidado com o novembro cuidado com escuridão, se tiver mal, sai, conversa, bate papo, isso é muito importante.

Montar um negócio na Suécia: Brazil &Co

Rosana: Áurea, você vem da área de comunicação, você quer falar um pouco sobre a transição da carreira? Você deixou a sua carreira no Brasil para acompanhar seu marido, e hoje você tem um negócio próprio. Você pode falar um pouco sobre isso?

Áurea: Eu vim acompanhando meu marido e não tinha planos de trabalhar na Suécia pelo menos no início. O meu objetivo era apoiar meu marido, integrar as crianças no colégio, ser o suporte da família nessa fase de adaptação.

Essa é a vantagem de você migrar com quase 50 anos, as minhas cobranças profissionais eram muito pequenas porque eu já tinha feito uma carreira no Brasil, já estudei, já me desenvolvi. E é isso que falo para as mulheres que eu conheço aqui, a maioria chega na faixa de 30, 40 anos, ainda tão formando uma carreira de trabalho, ainda tão buscando experiência profissional, coisa que eu já tinha feito no Brasil. Isso é uma vantagem quando você imigra com 50 anos, você vem mais tranquila, vem se cobrando menos.

No começo, fui estudar o idioma sueco, e acabei me conectando com a comunidade brasileira, acho que a maioria das pessoas acaba fazendo isso, buscando os seus iguais, os seus pares. Numa dessas conversas acabei conhecendo duas moças brasileiras, a Karina e a Lanay, que são as minhas sócias. Elas já tinham um pequeno negócio no Instagram, e estavam procurando uma loja pra colocar os produtos brasileiros num pequeno ponto físico. A princípio era uma pop-up store, uma loja temporária. Em um mês a loja foi um sucesso e nós começamos a perceber que havia uma demanda da comunidade brasileira para produtos brasileiros. Então há dois anos nós criamos a Brasil & Co que é uma loja de produtos brasileiros colaborativo, é uma loja que reúne pequenos empreendedores. Nós compramos produtos desses pequenos empreendedores, fomentamos esses empreendedores e importamos alguns produtos. A gente começou com 70 itens, e hoje já temos quase 400 itens na loja. E uma loja no centro de Estocolmo, uma loja que não é só uma loja, é um cantinho brasileiro.

Nós apresentamos, inclusive para o Sueco, um pouco da cultura Brasileira, um pouco sobre os nossos hábitos, sobre a gastronomia brasileira. O Sueco é muito curioso sobre culinária internacional, porque a Suécia não tem uma história de gastronomia. Aqui é a almôndega de carne e batata, esse é o prato típico do Sueco. Então eles são muito curiosos com novas culinárias e deu super certo. Nós estamos muito animadas. A gente vende na loja física e em agosto do ano passado lançamos um site pra atender a Suécia inteira, além de Estocolmo, a capital onde eu moro. Em setembro, um mês depois, a gente lançou o site pra 9 países da Europa. Nos passamos a atender a Dinamarca, Finlândia, Bélgica, Estônia, Letônia, Lituânia e outros. Nós também pegamos países que têm pequenas comunidades Brasileiras e que os produtos Brasileiros não chegavam as pessoas. Estamos muito animadas, mas claro que empreender é super desafiador, imagina empreender na Suécia! Eu falo meu Deus, onde que eu estava com a cabeça pra fazer isso?

Eu posso deixar na descrição do podcast as informações do site pra quem quiser conhecer melhor a nossa loja e quem quiser empreender e quiser trocar experiências de como empreender fora do Brasil.  

Polyana: Parabéns, é sempre bom ouvir uma história de sucesso de Brasileiras que estão empreendendo. Existe alguma política pública ou facilidade de abrir empresa na Suécia que tenha favorecido vocês?

Áurea: Não tivemos nenhum incentivo do governo para abrir a loja. Mas a gente está sempre em contato com os órgãos de governo e somos bem informadas. E muito fácil aqui na Suécia abrir e fechar uma empresa, buscar informações, tirar suas dúvidas. Isso é bem tranquilo. Agora é um aprendizado constante. Enquanto eu estou conversando com vocês eu acabei de receber um e-mail da contabilidade e eu não quero nem abri-lo porque já sei que eh para pagar imposto. Como eu disse a Suécia é um país muito organizado inclusive na questão de tributação. Você tem que fazer tudo muito certinho.

Estamos animadas, é um desafio, é muito complicado, é mais difícil do que parece mas a gente tem colhido bons resultados. Eu recomendo você empreender. Mas eu acho que o grande sucesso da loja é porque nós somos a única loja de produtos brasileiros em Estocolmo. Então voltando lá para o meu tempo de faculdade, eu dava aula de planejamento estratégico. Eu falo que você pode montar o negócio que você quiser, desde que você saiba para quem e como você vai vender porque a concorrência é muito grande.

 Você precisa pensar em alguma coisa diferente e as vezes a gente acha que não tem nada diferente. Mas o Spotify não existia há 5 anos atrás, o Google não existia 30 anos atrás. Eles criaram uma novidade, isso e inovação. Sempre aparecem boas ideias.

Polyana: Eu acho super importante o fato de você ter sido uma professora universitária ter essa bagagem técnica para também olhar essa oportunidade.

Áurea: Essa é a vantagem de migrar com quase 50 anos. Eu trouxe experiência e know-how do mercado Brasileiro.

 E a outra vantagem da idade e que me cobro menos, sou menos ansiosa e celebro muito mais os meus pequenos resultados.

Essa é a vantagem de você migrar com quase 50 anos, as minhas cobranças profissionais eram muito pequenas porque eu já tinha feito uma carreira no Brasil.

A gente vai ficando mais velha e é a questão da qualidade daquilo que você está fazendo que importa. Não me interessa mais a quantidade. Se é uma pequena loja de produtos brasileiros, eu vou me dedicar com o máximo de empenho para aquele pequeno negócio. Não tenho essa expectativa de que nós temos que ser grandes. Demora muito para a gente aprender celebrar as pequenas coisas. Isso vem com a maturidade e eu agradeço muito nos termos feito essa mudança.

Eu acho que a gente podia ter feito essa mudança há mais tempo. Poderíamos ter ido pro exterior há mais tempo. Mas foi o que foi e tudo certo no tempo de cada um e nas coisas que deus reservou para a gente.

Demora muito para a gente aprender celebrar as pequenas coisas. Isso vem com a maturidade e eu agradeço muito nos termos feito essa mudança.

Rosana: Vocês saíram no Brasil de forma permanente a intenção já era emigrar a permanentemente para a Suécia?

Áurea: Permanentemente. Eu não tenho intenção de voltar. Mas a gente nunca sabe o futuro porque como eu disse, a gente não esperava sair do Brasil. Mas saímos. Agora eu espero não sair da Suécia, espero fincar raiz na Suécia e estou me preparando para isso. Mas a gente também nunca sabe então eu acho que nós não podemos planejar muito. Nós temos que nos preparar para o amanhã mas será que eu vou estar pronta para o próximo desafio?

Eu quero muito ficar na Suécia. Os filhos estão adaptados, o marido está adaptado e estou super animada com a loja então não quero voltar. Mas eu penso que a felicidade está dentro da gente, então a gente tem que ser feliz na Suécia, na Austrália, no Brasil.

Polyana: Deixa eu aproveitar esse assunto e perguntar sobre a questão do lar. Hoje o lar é a Suécia? Onde está a felicidade?

Áurea: O lar é a Suécia. Eu estou muito feliz aqui. Todo mundo brinca comigo, os brasileiros que às vezes vêm de maneira temporária, eu falo, ah, eu se puder vou morrer na Suécia. Eu nasci no Brasil, gosto do Brasil, reverencio o país e eu sou brasileira. O Brasil tem uma série de desafios mas o Brasil tem enormes qualidades assim como a Suécia. Então eu acho que Deus pôs essa experiência internacional para a gente e isso é um privilégio porque nem todo mundo tem essa oportunidade. Então a gente também tem que agradecer, ser grata e aprender.

Polyana: E quando você vem ao Brasil como é voltar? Quais os locais que você visita, as comidinhas irresistíveis?

Áurea: Nós temos tentado ir ao Brasil pelo menos uma vez por ano porque nós temos família, eu tenho meus pais, tenho duas irmãs, sobrinhos queridos, tios, tias. Tenho uma rede de amigos que fazem muita falta aqui. Eu fiz boas amizades aqui mas acho que nada como estar de volta, as nossas origens, eu gosto muito de ir ao Brasil. Já vou direto para um suco de laranja natural um pão na chapa, pastel, a gente vai fazendo a lista e vai ticando uma vez por dia. Sobretudo porque aqui no norte da Europa a produção agrícola é muito baixa por conta das baixas temperaturas, a variedade de alimentos é escassa e é difícil de se encontrar alimentos frescos, alimentos como laranja, banana, só tem um tipo. A gente que vem de um país de tanta diversidade.

Se você for a Porto Alegre é um tipo de comida, se você for a Belém é outro tipo de comida, onde você for a comida é maravilhosa.

Claro que onde estou é uma cidade maravilhosa também. Muita gente acaba esquecendo da Escandinávia como destino de passeio, então quem está ouvindo, Estocolmo e uma cidade belíssima, Copenhague na Dinamarca, Helsinki na Finlândia, Oslo na noruega. Esses quatro países aqui no norte da Europa, vale a visitar.

Rosana: Áurea, ainda tem muitas perguntas que gostaria de fazer mas já tomamos muito do seu tempo. Foi um prazer. Sua história é uma história não apenas de sucesso mas um exemplo pra quem não pensou em emigrar até uma certa idade e agora sabe que é possível.

Áurea: Minha mensagem final é: venha, não tenha medo, confie em você, nos seus instintos, na sua experiência, no que você já construiu. Vai dar super certo.

Polyana: Muito obrigada, Áurea nos sentimos honradas de você compartilhar sua história, de nos trazer essa empolgação. Gratidão.